Trajetória: Léa Garcia

Nascida no Rio de Janeiro, em 11 de março de 1933, Léa Lucas Garcia de Aguiar, conhecida apenas como Léa Garcia, foi criada pela avó materna desde os 11 anos de idade, após o falecimento da mãe. Como a avó trabalhava para uma rica e tradicional família carioca, Léa pôde estudar nos melhores colégios da cidade.

Aos 16 anos, conheceu Abdias do Nascimento, fundador do Teatro Experimental do Negro. Para assistir aos espetáculos teatrais, a jovem passou a negligenciar os estudos, o que acabou logo sendo descoberto por seu pai, que lhe deu uma surra no meio da rua. Com isso, Léa fugiu de casa e passou a viver com Abdias, 20 anos mais velho, uma figura não muito querida pela conservadora sociedade da época. Por ser um legítimo ativista social, em defesa dos direitos dos negros, por diversas vezes, Abdias viu seu nome caluniado em manchetes de jornais, inclusive por conta de seu romance com Léa. Casados, eles tiveram dois filhos. Abdias faleceu em maio deste ano, aos 97 anos, no Rio de Janeiro.

Da convivência com o marido, Léa adquiriu um espírito militante e visionário, características que marcaram sua trajetória artística. Em 1952, estreou como atriz na peça "Rapsódia Negra", recitando o poema "Navio Negreiro", de Castro Alves. Este seria apenas o primeiro de dezenas de trabalhos nos palcos. "Orfeu da Conceição" (1956, assinada por Vinícius de Moraes), "Casa Grande e Senzala" (1971), "Cenas Cariocas" (1983), "Piaf" (1983, com Bibi Ferreira) e "Pequenas Raposas" (2004, ao lado de Beatriz Segall) foram alguns deles.

O cinema surgiu na vida de Léa quase que simultaneamente ao teatro. Em 1959, a atriz estreou na telona no aclamado "Orfeu Negro", de Marcel Camus, adaptação da peça "Orfeu da Conceição". O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, no ano seguinte, e deu à Léa a segunda colocação no Festival de Cinema de Cannes.

Em 2004, já veterana, Léa foi premiada com o Kikito de melhor atriz por sua atuação em "Filhas do Vento", dirigido por Joel Zito Araújo. "Se o júri e a crítica do festival assim decidiram, devo ter merecido. Acho o prêmio com um valor simbólico grande para nós, negros. Vem resgatar a nossa auto-estima e a consciência de nossa problemática na sociedade", declarou na época.

Na TV, Léa coleciona coadjuvantes de luxo. Sem dúvidas, sua personagem mais importante nas novelas veio em 1976, em "Escrava Isaura". Rosa era o segundo papel feminino de maior peso na trama e lhe rendeu projeção internacional, uma vez que a novela é uma das mais comercializadas mundo afora.

Léa também guarda outro trabalho com muito carinho. Em "Marina" (1981), ela deu vida à professora Leila, uma mulher à frente de seu tempo e que é tida como uma das personagens negras mais importantes da nossa teledramaturgia. Culta e batalhadora, ela criava e educava sozinha sua única filha, que mais tarde passou a ter vergonha da mãe. A cena em que a professora disserta sobre Zumbi dos Palmares e repudia o racismo foi um dos momentos altos da novela.

Ao longo de sua carreira, Léa Garcia bateu ponto em várias emissoras de TV. Além da Globo, passou pela Record, Band, Manchete e TV Rio - estas duas últimas já extintas. Seus últimos trabalhos na telinha foram na Record, onde está desde 2006. Em 2010, integrou o elenco da minissérie "A História de Ester". Sua última aparição, porém, aconteceu este ano na Globo, com a reprise de "O Clone" (2001), também seu derradeiro trabalho na platinada.

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