"Aquele Beijo" parece ser coisa boa

"Aquele Beijo" estreou na última segunda-feira (17) com uma missão e tanto: manter os índices de audiencia deixados por "Morde & Assopra", porém, com dignidade e competência. Após o romance sem tempero e humor debilóide de Walcyr Carrasco, eis que Miguel Falabella chega com uma história redondinha: quarteto amoroso interessante somado à comédia adulta e inspirada. Parece ser coisa boa. Contudo, fica a preocupação: a audiência, mal acostumada com o que o título anterior oferecia, pode rejeitar a proposta de "Aquele Beijo" e aí... prefiro nem imaginar. Por hora, a excelente média de 35 pontos alcançada na estreia caiu para 27 no segundo capítulo. Perder 8 pontos assim é algo preocupante, mas vamos encarar como um efeito natural, até por razão do horário de verão.

Acredito que Miguel Falabella seja o autor de novelas mais ousado que temos. Naturalmente, essa característica tem lá suas desvantagens. Suas histórias exageradas (no bom sentido), repletas de personagens "exóticos" (a começar pelo nome), nem sempre agradam o espectador convencional, o que acaba implicando na audiência. Falta de identificação? Certamente.

Talvez tentando buscar essa tal identificação imediata, o ator tenha optado por imprimir à "Aquele Beijo" cores fortes de um bom novelão tradicional, com tipos de grande apelo popular, de fácil assimilação. Estão lá a vidente charlatã (Iara, de Claudia Jimenez), a usurpadora de identidade (Damiana, de Bia Nunnes), a vilã implacável mas cômica (Maruschka, da sempre divina Marília Pêra) o nordestino esquentado e de sotaque carregado (Felizardo, de Diogo Vilela), a suburbana que não guarda almoço para janta (Íntima, de Elizângela), o playboy que só quer curtir a vida (Rubinho, de Victor Pecoraro)... "Aquele Beijo" tem ingredientes já testados e comprovados, mas que, nas mãos de Falabella, devem ser servidos em porções inéditas, no time satírico e inteligente do autor. O grande barato dessa novela é descobrir o que figuras tão manjadas têm a oferecer de novo. Espero me surpreender.

Outro detalhe que chama a atenção em "Aquele Beijo" é a semelhança com as famigeradas novelas mexicanas. Falabella diz adorar as produções cucarachas e não nega a inspiração. A brincadeira com o conceito do folhetim mexicano, extremamente exteriotipado, é outro bom motivo para acompanharmos a mais nova comédia romântica das 19h.

Por falar nisso, morri de rir com as cenas da falsa médium Iara, que diz receber o espírito de Hermanita, uma criança mexicana. “Nós costumávamos assistir a uma novela mexicana e naquela noite estávamos sentados aqui, eu, mamãe e meu primo Joselito, quando um ônibus invadiu o jardim, derrubou a parede e pegou mamãe. Naquele instante, com o choque, eu recebi a entidade que até hoje trabalha comigo”, disse às clientes, explicando como sua mediunidade se manifestou pela primeira vez. Genial!

Por conta do horário de verão, será um desafio e tanto para este blogueiro acompanhar "Aquele Beijo", infelizmente. Isso aconteceu também ano passado com a incrível "Ti-Ti-Ti", me deixando muito chateado. Sorte de quem pode estar em casa antes das 19h30, pois a novela parece ser imperdível. Numas dessas, peço demissão do emprego.

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