"Avenida Brasil" é a melhor

Dizem que após a tempestade, vem a bonança. Após “Fina Estampa”, veio “Avenida Brasil”. Embora o aconselhável seja aguardar a sua conclusão para dar um parecer final e justo, podemos registrar que “Avenida” é uma novela infinitamente melhor que sua antecessora. Provou isso já na estreia. Frenética e viciante, é dessas que não nos perdoamos quando perdemos um só capítulo. A trama não cai na prolixidade e chama a atenção por injetar, a cada sequência, novo gás à expectativa do público. É o João Emanuel Carneiro que não nos cansamos de festejar. Interessante ver como o autor consegue repintar o surrado entrecho da mocinha que, após sofrer o pão que o diabo amassou, volta para concretizar uma vingança contra seus algozes.

Observamos, novela após novela, que muitos dramaturgos já não estão preocupados em surpreender a audiência – ou nunca sequer se propuseram a isso. Carneiro é uma grata exceção. Sua arrojada carpintaria já é conhecida de outros carnavais. Em 2008, também recebendo a bola de uma fraca novela de Aguinaldo Silva, ele nos brindou com "A Favorita", obra elogiadíssima e considerada inovadora. Nela, só fomos conhecer a mocinha e a vilã do enredo após dois meses de trama rolando - um divisor de águas para o formato. Em "Avenida Brasil", Nina (Débora Falabella) é a heroína que age de maneira ilícita para anular a bandida Carminha (Adriana Esteves), a madrasta que roubou sua infância. Até metade da narrativa, a vilã não sabe que a mocinha vingadora, travestida de cozinheira, está debaixo do mesmo teto que o dela, servindo sua nova família e prestes a dar o bote. Ou seja, no fundo, ambos os títulos bebem da mesma fonte de ousadia. Pense.

Entretanto, numa análise comparativa inevitável, "Avenida Brasil" leva vantagem sobre "A Favorita" aqui e acolá. Ao contrário da produção estrelada por Patrícia Pillar e Cláudia Raia, Adriana Esteves e Débora Falabella não brilham sozinhas no atual cartaz das nove da Globo. Nesta, as tramas paralelas funcionam muito bem e ajudam a quebrar a soturnez da vingança da mocinha. Já em "A Favorita", os personagens secundários eram insípidos e, por vezes, sem o espaço que careciam, pagavam de figurantes. Além disso, não havia humor na aclamada novela de 2008. Foi um folhetim arrasa-quarteirão? Foi. Mas pecou nesse ponto.

Em "Avenida", Carneiro mostra um trabalho mais delineado. Colateralmente à aguardada desforra de Nina, toda a turma do Divino diverte, de Monalisa (Heloísa Périssé) a Adauto (Juliano Cazarré). Leleco, o vovô com alma de garotão vivido por um inspirado Marcos Caruso, vem arrancando boas risadas sempre que surta de ciúmes por Tessália (Débora Nascimento) ou troca farpas com Muricy (Eliane Giardini). Suelen não poderia ter ido parar nas mãos de outra atriz que não fosse Ísis Valverde. A maria-chuteira, musa da periferia, já pegou todos os marmanjos que atravessaram seu caminho; virou sem-teto; sustentou uma gravidez falsa para tirar vantagem dos prováveis pais do bebê; e agora, numa fase mais apagadinha, está para trocar alianças com seu ex-desafeto, um casamento de fachada. As desventuras da piriguete, embaladas por um hit da banda Aviões do Forró, rendem gargalhadas. O mesmo acontece com o núcleo de Cadinho (Alexandre Borges) e suas três mulheres, Verônica (Débora Bloch), Noêmia (Camila Morgado) e Alexia (Carolina Ferraz). O quarteto de atores, que ganhou Betty Faria como reforço, está em total sintonia, nos divertindo com esse déjà vu que tinha tudo para não emplacar.

João Emanuel Carneiro, como disse no início, não tem economizado na injeção de gás à "Avenida Brasil". Aliás, essa é uma das principais características do autor. A história não para, não entedia, está sempre em constante movimentação. São revelações atrás de revelações. 220 volts! Quando você pensa que Nina vai "congelar no cinza", surpresa, tem um gancho mais forte ainda para fechar o capítulo. E esta semana, como se sabe, acontece a grande virada no enredo, quando Carminha descobre que sua ex-enteada e sua cozinheira são a mesma pessoa. Em outras palavras, uma nova novela vai começar.

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