"Carrossel" revitaliza a força do SBT no cenário televisivo

Em 1991, quando estava prestes a comemorar dez anos de existência, o SBT levou ao ar a versão mexicana do folhetim argentino "Jacinta Pichimahuida, La Maestra Que No Se Olvida" (1966). "Carrusel", aqui chamada de "Carrossel", fez estrondoso sucesso e prejudicou bastante a Globo, que exibia na faixa o "Jornal Nacional" e a novela das oito "O Dono do Mundo". Agora, mais de vinte anos depois, eis que a produção mambembe cucaracha ganha uma releitura brasileira, pelas mãos de Iris Abravanel, na mesma emissora de Silvio Santos. A trama estreou na última segunda-feira (21) e, assim como aconteceu com a original, está ocasionando uma bela reviravolta no cenário televisivo tupiniquim.

Enquanto a estreia rendeu surpreendentes 13 pontos de audiência na Grande São Paulo, o segundo capítulo foi além e cravou 15, mais que o dobro da média exigida. O share de terça-feira (22) apontou que uma em cada cinco TVs ligadas estava no canal da Anhanguera. Tentando evitar um hipotético estrago, a Record suspendeu as janelas comerciais de seu principal telejornal. Queima, Jesus! O curioso é que nem a Record nem a poderosa Globo perderam público considerável para o maior investimento do SBT este ano. A criançada migrou da TV paga. Mas é bom colocar as barbas de molho...

Conclui-se que os gordos números são resultado de uma vasta divulgação. Nas últimas semanas, um sem número de chamadas permeou toda a programação da emissora -- inclusive banners em tela cheia encheram a paciência do espectador. Sem contar que o elenco infantil da novelinha, numa ação de merchandising praticamente inédita no canal, perambulou pelos principais programas da grade. Foi legal ver a turminha no dominical do Silvio Santos, principalmente por conta dos comentários do patrão sobre audiência. Ele apostou em 15 pontos e acertou na lata.

Contudo, quando o assunto é novela, reza o bom senso aguardar um pouco mais, sentir melhor o pulso do público por uns quinze ou vinte capítulos. Só aí será possível afirmar se estamos diante de um baita sucesso ou não. Afinal de contas, a trama ficará, no mínimo, um ano no ar -- já se especula uma segunda temporada.

Destaques: Larissa Manoela e Rosanne Mulholland
Independente do panorama atual ou futuro, o investimento na produção bem que poderia ter sido maior, especialmente naquilo que vende melhor uma novela: o elenco. Se contávamos nos dedos os atores consagrados na razoável "Corações Feridos", nem isso podemos fazer na atual adaptação. Não há ninguém com currículo de mais de uma página ali. Pode não ser imprescindível, mas um nome de peso é sempre ponto positivo num cast, acredito. Por falar nisso, a quantidade de atores medíocres no remake não está no gibi. Assim como aconteceu nos folhetins anteriores do SBT, "Carrossel" reúne figuras de pouco engenho para a arte da interpretação. Boa parte das crianças está mal ensaiada e alguns adultos parecem casos perdidos. Precisa ver isso aí, Reynaldo Boury! Na ala dos bons destaques, Larissa Manoela, que vive a nojentinha Maria Joaquina e já havia atuado em "Corações Feridos", desponta e destoa de seus coleguinhas. Rosanne Mulholland é linda e também está dando conta do recado como a amável professora Helena.

Perdoando o cenário da escola longe da nossa realidade e os fracos nomes no elenco, a nossa "Carrossel" está saindo melhor que o soneto, mesmo que isso não seja um grande mérito. A adaptação veio em ótimo momento (quando a "TV mais feliz do Brasil" está empenhanda em voltar a ser vice-líder de audiência), mas poderia já ter acontecido há tempos. Primeiro que o histórico do SBT com o público infantil é muito feliz, o que sempre permitiu esse tipo de voo; segundo, não é de hoje que a meninada anda carente de um bom produto na telinha que não seja desenho animado atrás de desenho animado; e terceiro, trata-se de uma história que está guardada na memória afetiva de toda uma geração. A excelente recepção à novela, talvez, se explique bem aí. Não teria como não dar certo. Que "Carrossel" continue unindo a família brasileira...

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