"Fina Estampa" e a sensação de déjà vi

O capítulo de "Fina Estampa" desta sexta-feira (25) terminou em alta voltagem. Para evitar que seu segredo cabeludo vá parar na primeira página do Diário de Notícias, Tereza Cristina (Christiane Torloni) decidiu encurtar os dias de vida da malévola jornalista Marcela (Suzana Pires), que vinha lhe chantageando nos últimos dias. Com a ajuda de Ferdinand (Carlos Machado), a perua armou uma emboscada para assassinar a rival. Marcela levou um tiro no peito numa simulação de assalto, dentro do carro de Tereza Cristina. O disparo, porém, não foi fatal, como será constatado neste sábado (26). Vaso ruim não quebra fácil. Além disso, uma personagem tão perversa quanto Marcela, que aprontou poucas e boas com Teodora (Carolina Dieckmann) e Esther (Júlia Lemmertz), merece um final mais elaborado, ainda que seja clichê.

Pensando nisso (ou não), Aguinaldo Silva prefiriu prorrogar o sofrimento da jornalista de porta de delegacia. No capítulo da próxima terça (29), Tereza Cristina visitará Marcela na UTI do hospital e concluirá o serviço com suas próprias mãos. Usando um travesseiro para sufocar a infeliz. Nada mais original, não é mesmo?

O chato é que dessa vez, segundo as últimas informações apuradas por nossa redação, não haverá agradecimento à nenhuma vilã memorável da teledramaturgia, como aconteceu na ocasião da morte do mafioso chantagista. Na cena, exibida há um mês, Nazaré Tedesco, papel de Renata Sorrah em "Senhora do Destino" (2004), foi lembrada por Tereza Cristina e causou furor no microblog Twitter. A referência dividiu a opinião dos internautas. Pessoalmente, achei desnecessária, forçada... soberba do autor. Enfim...

Mas, pensando aqui com os meus botões, bem que Aguinaldo Silva poderia brincar com a situação e repetir a dose. Que tal um "obrigada, Norma"? Isso porque a personagem de Gloria Pires em "Insensato Coração" foi simplesmente a última a lançar mão de um travesseiro para tirar um estorvo de seu caminho. Ou vai dizer que você não lembra da cena da morte de Araci (Cristiana Oliveira)? Se é para "mexicanizar", vamos "mexicanizar" direito.

Se bem que um "obrigada, Flora" seria uma boa, haja vista que as semelhanças entre os dois expedientes não são nada sutis. Vamos entender o caso? Lembrando, antes de mais nada, que este blogueiro não pretende com isso estragar toda a inventividade "aguinaldiana"; é apenas uma pequena prova do quanto esse mundo da ficção é um ovo. Já que estamos entendidos, confira no próximo parágrafo a justificativa para mais uma ótima oportunidade metalinguística em "Fina Estampa".

Em "A Favorita", a jornalista Maíra (Juliana Paes) descobriu o passado podre de Flora e virou uma ameaça em potencial para a supervilã intrerpretada por Patrícia Pillar. A saída encontrada por Flora foi assassinar a coitada, contando com a ajuda de seu comparsa Dodi (Murilo Benício). Maíra foi atropelada, mas não morreu. Assim, a maior interessada no presunto se viu obrigada a improvisar. Flora baixou no hospital, vestiu um uniforme de enfermeira e desligou os aparelhos que mantinham a jornalista viva.

Só faltou o tiro e o travesseiro para tudo ficar bem encaixado, percebeu? E essa sequência de "A Favorita", claro, é apenas a mais fresca na memória do público. Agora é torcer para que Tereza Cristina consiga imprimir sua marca à cena, se não quiser ser engolida pelo óbvio ou massacrada ainda mais por comparações. Vendida como mais perigosa do que a antológica Nazaré Tedesco, a vilã de "Fina Estampa" ainda não é digna do meu respeito. As antagonistas de hoje em dia não podem ser tão previsíveis e vazias assim.

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